sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Tarda mas não falha...




Consegui finalmente terminar minha monografia, a qual vou defender dia 9 de dezembro. Fiz sete trabalhos dos quais utilizei gavetas e construí pinturas com colagem de papéis e objetos coloridos dentro delas. Posso dizer que foi o primeiro trabalho que fiz e me diverti fazendo-o, ouvindo música (vinis, meu mais novo transtorno obcessivo compulsivo saudável) e tomando zilhões de litros de café. Faria uns trinta trabalhos se tivesse tempo e grana. Seguem ai trechos misturados do texto da minha monografia pra dar um gostinho a quem não poderá comparecer lá dia 9:

“Algumas em parte (gavetas) são pertencentes de algum membro da família, outras retiro de um ambiente que não conheço, sem saber de que móvel pertencia, o que guardava, a quanto tempo existe, ou seja, não existe relação de afetividade com tais objetos encontrados ou ganhados. Por se tratar de uma gaveta da memória, mesmo esta vindo de um lugar desconhecido, entendo que a sua memória está gravada nela mesma através de todas as suas imperfeições, ranhuras e até mesmo um eventual pingo de tinta ou trajeto feito pelo pincel em sua superfície externa, características estas que fazem parte de sua história, da mais antiga à mais recente.
Em conformidade com esta idéia da história das coisas, este trabalho é marcado por se utilizar de dois tipos de objetos num mesmo espaço: o objeto novo e o objeto velho. Estes objetos carregam consigo as características próprias de suas idades: os objetos novos na glória de sua perfeição, trazem consigo a luminosidade de suas cores, a lisura de sua superfície, despertando em nós a ânsia pelo uso do que ainda não fora utilizado, fazendo pensar que aquilo que está ali “novo em folha” existe para nos servir. Em contrapartida o uso dos objetos antigos vem compor o espaço de forma a se explorar sua memória exposta em sua pele, sua história cunhada em suas próprias ranhuras, a ação do ambiente interferindo no seu caráter.
Os objetos novos dos quais faço uso nestas pinturas-objeto foram comprados especialmente para a construção da série. Estes vêm compor o espaço numa alusão ao momento presente, sempre se referindo a alguma passagem da vida da autora, ou como memória afetiva, trazendo consigo uma latência do que pode vir a ser se pensarmos que estes objetos jovens guardam na sua superfície lisa o suporte para suas futuras fissuras temporais.
Todos os objetos sofridos, mais desgastados pelo tempo, eram meus ou de pessoas da minha família. Estes objetos vêm dizer de uma história das coisas, de um caráter adquirido com o tempo, da transitoriedade, de relações moldadas a custa de cicatrizes e se distanciam, neste sentido, dos ready-mades de Duchamp no sentido de que existe história e algum sentimento impregnado nestes objetos, eles não são somente retirados friamente de seu meio e expostos como objetos de arte, existindo desta forma uma outra relação com a apropriação.
Compor um espaço é um exercício primordialmente passional para mim. Eu me exponho com a intenção de que o expectador se interesse pela imagem, pela poética, pelo processo criativo mas principalmente pelo sujeito, como se fosse um jogo de sedução entre um casal. Me interessa a história das pessoas e o que posso descobrir sobre elas dentro de um trabalho plástico. Talvez seja por isso que os objetos que trago nestas imagens sejam carregados de humanidade na tentativa de expor minhas próprias cicatrizes ao público.

Combina com: guaraná golé, sessão da tarde, nostalgia das coisas que não voltam mais.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Tosqueira pouca é bobagem


“Que coisa doente”, disse um amigo ouvindo os Cramps certa vez aqui em casa. A música em questão era “She Said”, uma das mais de sete mil pérolas creditadas ao inacreditável Hasil Adkins, gravada pelo grupo na compilação "Bad Music For Bad People”.
Adkins, este senhor ai da foto, com a sua aparência “zombie cowboy” foi um dos precursores do formato que hoje é conhecido como one man band (ele tocava violão, bateria, gaita e cantava ao mesmo tempo) e responsável (dizem) pelo que hoje é o psychobilly.
Ouvindo no rádio as músicas de sua época, Hasil começou a tocar sozinho porque imaginava que todas aquelas canções eram executadas por uma pessoa só. Santa ignorância (sem sarcasmo).
Compondo desde os anos cinqüenta, suas músicas, uma espécie de rockabilly tosca e mal gravada, falavam de sexo, assassinatos (cortar cabeças de moças e colocá-las na parede), política e outras coisas absurdas, indo numa direção totalmente oposta do que se fazia na época.
Vivendo sozinho em um trailer no meio do mato, ele nunca saiu do lugar onde nasceu e fora encontrado morto ali mesmo em 2005. Lá, entre doses de vodka e café, caçava animais e comia carne crua.
Nos anos 80 ele até teve algum reconhecimento devido ao resgate e lançamento de suas gravações o que fez com que ele saísse da obscuridade total e, devo confessar, me anima saber o quão genial pode ser um bêbado hermitão.


Combina com: vodka quente, cabra macho de verdade e soda cáustica.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Meu Anti-Herói!


As coisas definitivamente são estranhas. Eu tive o pior fim de ano da minha vida, sem grana, sem homem, com tudo por fazer e nenhuma vontade de terminar, tomando chá calmante o dia todo, enfim, perdedora total. No feriado, dentre todo o meu ócio decido ir a locadora maaaaaais longe da minha casa e pegar três filmes que queria ver a muito tempo. Um deles é o “Anti-Herói Americano” que conta a história de Harvey Pekar, arquivista de um hospital de Cleveland que decide fazer um Hq autobiográfico com a genialidade de quem se distancia e olha pra própria vida de uma maneira ácida, até meio cínica.
Autor somente do texto, Pekar que não sabe desenhar nem um patinho até hoje, delega a função do desenho para seu ilustre amigo Robert Crumb e assim vários ilustradores vão passando pelo esplendor americano.
O próprio Harvey narra boa parte do filme e participa dele numa espécie de entrevista que vai sendo encaixada ao longo do tempo onde a esposa esquisita e os amigos também participam. Os vídeos reais de participações de Pekar no show do Letterman são capítulos a parte com destaque para a última pala homérica do mesmo, com direito a chingamentos e discussões ao vivo de um cara que esta cheio de ser motivo da piada alheia. Fantástico.
As lamúrias pessoais de lá de cima vêm totalmente a calhar em se tratando deste cara que é talvez a pessoa mais loser de quem já ouvi falar com uma vida totalmente ordinária: pouca grana, um trabalho medíocre, uma casa bagunçada, amigos bizarros, abandonos amorosos e a rabugentíssise típica que aflige este tipo de pessoa.
Além de tudo isso ainda tem as pérolas que confortam ou dão ainda mais vontade de ser o mau humorado que você é: “Vida comum é um negócio muito complexo”, “Por que todo mundo tem que ser tão idiota?” e alguma coisa do tipo “eu trocaria todo aprendizado que o sofrimento traz por um pouco de felicidade” numa conversa com Crumb.
Tudo vem muito bem a calhar. As vezes acho até que estas coisas falam comigo.


Combina com: “prováveis autistas”, calmantes de tarja preta, toda pessoa de mal com a vida.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Eu gostaria de dizer algumas palavras sobre filmes sobre casamentos


Pelo menos duas vezes por ano a “maravilhosa” Rede Globo de Televisão faz-me o favor de exibir o “O Pai da Noiva”, filme de 1991 do diretor que nunca havia ouvido falar, Charles Shyer.
Eu muito emocionada e agradecida, claro, assisto-o com o fervor que se deve assistir aos clássicos de sessão da tarde.
O filme que vos falo trata-se de uma refilmagem de outro filme de mesmo nome, do ano de 1950, do diretor Vincente Minnelli com Spencer Tracy e Liz Taylor ainda sem seus fadados pés de galinha. No remake o pai da noiva é o feminista de ocasião George Banks (Steve Martin) e a mãe a doce e compreensiva Nina Banks (Diane Keaton).
A história já é sabida: pai de família pão duro vê-se as voltas com vestidos de casamento, festas, ensaios, cisnes no jardim, contas, contas, contas e principalmente: a filha indo embora.
O roteiro é basicamente o mesmo nos dois filmes. As diferenças ficam por conta das mudanças de costumes que ocorrem nos 41 anos de espaço que existem entre as duas produções. A cena em que o pai tem um pesadelo com a cerimônia de casamento no filme original (que não existe na refilmagem) é fantástica, mas em compensação o hilário promoter francês Frank (Martin Short) é só um esboço opaco nos anos 50.
Em ambos os filmes a passagem é tratada com muito bom humor porém com sensibilidade. Os sapos que o pai engole, os pitís por causa do dinheiro, o ciúme do genro são brilhantemente sublimados quando o pai finge não estar acontecendo nada para apoiar a filha nos momentos de crise.
É de derreter até o coração mais duro.

Combina com: chuvas de arroz, qualquer tipo de esporte com papai e despedidas em geral.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Pj não é mais Raiva


Pj não é mais raiva. Muito pelo contrário. É uma menina frágil e descabelada trajando um singelo vestido branco na capa de seu novo disco White Chalk.
Falando do muito que já foi dito, neste disco ela troca a tradicional tríade baixo-guitarra-bateria, por piano, gaita, banjo. Troca gritos esganiçados e palavrões (cruzes!) por doces letras e até pedidos de desculpas.
Vendo algumas gravações de apresentações ao vivo fiquei com uma impressão de que tudo é um grande teatro planejado (não duvidando da sinceridade da cantora): uma figura antes tão cosmopolita, urbana e classuda agora tocando calmamente seu piano, cantando suavemente e vestindo roupas que são a ultima moda do ano de 1700.
Tudo bem. O disco é bom e mantém uma coisa que Pj faz bem: boas canções e criação de atmosferas sonoras simples e únicas.
Isso parece uma tendência de artistas que atingem a maturidade, poder se arriscar e sair do comum, criar para si mesmo. Acho válido. Ouço White Chalk e gosto mas espero que a Polly Jean lasciva que parece enfiar o dedo na nossa cara posso voltar um dia.



Combina com: castiçais antigos, chás e rivotril.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Tosca mas nem tanto






































































Deve ter uns três anos que vi Waking Life, de 2001, do diretor americano-texano Richard Linklater. Eu me lembro bem. Foi numa tarde de tédio (como varias outras que se seguiram após aquela), então fui numa locadora digamos, desprovida de bons filmes, aqui mesmo perto de casa. Filme denso e cheio de questões filosóficas e divagações interessantes sobre loucura e razão, religião e outras coisas que eu nem consigo classificar, estava na locadora, amazenado na seção de desenhos infantis, entre A Pequena Sereia e Aladin, ou coisa do gênero.
O que pode ter causado o equivoco de seção em que o filme estava é a maravilhosa animação feita por cima das gravações prontas com atores reais que conta inclusive com uma pequena participação do casalzinho do “Antes do Amanhecer”, do mesmo diretor, com um dialogo deveras instigante.
Do inicio ao fim, este recurso reforça a atmosfera onírica que o filme aborda com muito cenário se movendo atrás dos personagens, carros-barco, coisas aparecendo e sumindo, gente voando, andando no vácuo e se tranformando em nuvem. “Eu é que não quero ver este filme bêbado”, disse um amigo certa vez.
A trilha sonora é um show a parte que ficou por conta da chamada Tosca Tango Orchestra, um grupo de musica instrumental argentino que executou temas de Astor Piazzolla para la pelicula. Um casamento perfeito entre uma bela animação que beira o delírio e música, que para mim está no mesmo patamar da trilha sonora do Fabuloso Destino de Amelie Poulain.
Mas não é só isso! Sondtracks como este funcionam também independente do filme. É difícil uma trilha instrumental que me dê vontade de ter em casa e que ao escutar não me faça preferir ir dar banho no cachorro ou varrer o quintal ao som do puro silencio, mas esta vale a pena.

E o melhor, é fácil de achar no Soulseek. Tenta lá, tolinho.

domingo, 12 de agosto de 2007

Ha, elas, as férias!















Pois é, meu bem-bom começou quarta-feira passada. To assim, que nem o meu guru Ferris Bueller ai em cima. Tô curtindo o calor uberlandense diurno-infernal, vendo filmes, ouvindo discos, curtindo a novela das oito (que tá incrivel diga-se de passagem), pensando na morte da bezerra. Em breve escreverei sobre coisas bem mais interessantes do que as minhas insípidas férias, afinal de contas, as coisas que eu gosto são bem mais interessantes do que eu mesma (um pouco de autodepreciação é cool, baby).
Vejo vocês nas cenas dos próximos capitulos.